Falta de informação e pré-natal incompleto colocam o Brasil no ranking mundial da prematuridade - Hospital Sabará
Falta de informação e pré-natal incompleto colocam o Brasil no ranking mundial da prematuridade
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Falta de informação e pré-natal incompleto colocam o Brasil no ranking mundial da prematuridade

Atenção multidisciplinar e incentivo à amamentação são aliados na recuperação duradoura de bebês prematuros

Estima-se que um em cada dez bebês no mundo nascem de forma prematura, ou seja, antes de 37 semanas de gravidez. Aproximadamente um milhão de crianças menores de 5 anos morrem anualmente devido a complicações do parto prematuro, e a situação no Brasil é particularmente preocupante: nosso país é um dos campeões mundiais de prematuridade, especialmente pela falta de acompanhamento pré-natal e acesso à informação e exames específicos.

A campanha de Novembro Roxo existe para conscientizar as famílias que algumas causas são evitáveis, especialmente mediante acompanhamento médico adequado.

As causas da prematuridade são variadas, como gravidez na adolescência, tabagismo, gestação múltipla, problemas no útero como miomas e doenças durante a gestação, como zika e citomegalovírus (CMV). Muitos dos casos podem ser evitados com um pré-natal completo, além de campanhas de informação sobre fatores de risco.

Devido às complicações, o parto prematuro é a principal causa global de mortalidade infantil antes dos 5 anos de idade. Crianças que nascem antes do tempo podem ter complicações auditivas (como surdez), alterações visuais (como retinopatia), disfagia (dificuldade para engolir e realizar o transporte da comida e da saliva até o estômago), atraso neurológico, anemia, deficiência de vitaminas, hérnia inguinal e broncodisplasia pulmonar (doença pulmonar crônica) por privação de oxigênio.

Quanto mais prematuro é o bebê, mais comorbidades ele terá e mais atenção ele precisa. É necessário frisar que a criança não precisará de cuidados só durante a internação. Eles podem sair estáveis do hospital, mas correm risco de perda auditiva, atraso na linguagem, alterações gastrointestinais e atrasos motores. O Centro de Excelência do Sabará tem uma equipe multidisciplinar especializada para atender essa população“, explica Denise Madureira, coordenadora da equipe de Fonoaudiologia do Sabará.

Entre os fatores de risco para complicações futuras em prematuros estão a intubação orotraqueal (procedimento no qual o médico insere um tubo desde a boca até à traqueia do paciente), imaturidade dos órgãos, tempo prolongado no ambiente artificial da incubadora e uso de sondas de alimentação.

Um dos pilares no cuidado da prematuridade é o chamado Método Canguru, que incentiva o contato entre a pele da mãe e do bebê e a amamentação em livre demanda, desde que o bebê tenha aptidão.

Adotado no Hospital Sabará e indicado pelo Ministério da Saúde, o método canguru traz inúmeros benefícios, como estabilização da temperatura, diminuição do nível de estresse e dor, diminuição do número de infecções e favorecimento do padrão cardiorrespiratório.

“O método canguru, aliado ao atendimento multidisciplinar que temos no Sabará, ajuda no ganho de peso, no desenvolvimento neuropsicomotor e favorece o vínculo entre a criança e sua rede de apoio. Embora a prematuridade seja uma condição complexa que não se encerra no momento da alta, o acompanhamento de uma equipe especializada pode ajudar muito no futuro da criança”, completa Madureira.

Após nascer com apenas 690 gramas, história do pequeno Adam Weiss mostra a importância do cuidado multidisciplinar na prematuridade

A prematuridade marcou para sempre a vida de Célia Regina de Souza, mãe de Adam. Ao ficar grávida, Célia não teve nenhuma intercorrência, mas logo percebeu que sua barriga estava pequena. Ao fazer um acompanhamento mais extenso, ela foi internada rapidamente, e Adam nasceu com 26 semanas.

“Ele nasceu com apenas 690 gramas, foi muito difícil para a gente, porque não podíamos pegá-lo no colo, abraçar. Só de UTI foram quase sete meses, além das sequelas que o acompanharam por muito tempo. A gente tem na cabeça que assim que o prematuro atinge 2 quilos, ele já pode ir pra casa e tudo está resolvido. Mas na verdade era só o começo de uma longa jornada. Demorei a assimilar que ele seria um bebê com necessidades especiais“, explica ela.

Considerado um caso de prematuridade extrema, Adam enfrentou muitas intercorrências graves, como sangramento no cérebro, paradas cardiorrespiratórias, rompimento dos ossos, insuficiência renal e, finalmente, a temida enterocolite necrosante (quadro inflamatório do trato gastrointestinal). A situação se complicou após um quadro de SEPSE, no qual Adam ficou em coma por dois meses. Magro e desnutrido, ele tinha apenas 8kg com três anos de idade.

Foram os problemas gastrointestinais que levaram Adam ao Sabará como um dos pacientes do Programa Avançado de Tratamento da Insuficiência Intestinal (PATII). Quando Célia chegou ao hospital, ela já sabia que Adam apresentava um quadro extremo de desnutrição, mas ainda não sabia como fazer com que ele ganhasse peso de forma duradoura e saudável.

“Quando, após a primeira cirurgia, ele foi para casa, ele mamava no peito, mas não conseguia ganhar peso. Sempre fui instruída de que ele precisaria ganhar peso e Adam sempre comeu de tudo, mas mesmo assim nada resolvia, ele vivia ficando doente. Quando conheci o PATII, eu resisti inicialmente ao diagnóstico de que Adam teria que ser internado e usar ‘nutrição pela veia’, porque eu tinha a ilusão de que se ele comesse de tudo, resolveria a questão. Quando finalmente internou e começou a reabilitação intestinal, ele melhorou de uma forma impressionante e milagrosa”, completa Célia.

Após dois meses de nutrição parenteral, Adam voltou para casa comendo normalmente, e o ganho de peso foi rápido e duradouro. Hoje, a recuperação continua com acompanhamento médico, enquanto Adam se prepara para a cirurgia da ileostomia, procedimento cirúrgico para normalizar o funcionamento do intestino. “Ele está em casa, com uma evolução ótima e uma melhora considerável de todas as comorbidades adquiridas pela prematuridade”.

“É uma alegria enorme ver uma recuperação tão expressiva. Mas nada disso seria possível sem o empenho de cada membro da equipe como médicos, nutricionistas, fonoaudiólogos, psicólogos e fisioterapeutas, além do pleno envolvimento familiar”, pontua Denise Madureira.

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