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Dieta certa pode driblar anemia em crianças
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Dieta certa pode driblar anemia em crianças

 

Em países em desenvolvimento, a prevalência da anemia causada pela falta de ferro ultrapassa os 50% em crianças até os quatro anos de idade. Durante a amamentação, o leite materno supre as necessidades desse nutriente. O problema começa entre os 9 e 12 meses de vida, quando introduzimos a dieta da família.

Como essa fase de transição nem sempre ocorre facilmente, os pais, por inexperiência ou falta de conhecimento, acham que as crianças não estão gostando do novo cardápio e acabam exagerando nos laticínios e nos carboidratos. As carnes vermelhas ainda são as melhores fontes do mineral. O ferro do feijão, da gema do ovo, das verduras e das hortaliças verde-escuras (couve, brócolis, agrião, espinafre, rúcula) oferece um aproveitamento limitado, mas não sem importância.

Para aprimorar essa assimilação, valem algumas dicas. Antes de cozinhar, deixe o feijão de molho na água por uma hora, assim os fitatos são liberados e o ferro será melhor absorvido. Alojado na hemoglobina, pigmento do glóbulo vermelho, o ferro possui nobre missão: a de transportar oxigênio aos tecidos do organismo. Sua deficiência implica em palidez, fadiga, sono excessivo e inapetência. O hábito de comer terra, sabão e até gelo também pode sinalizar a anemia ferropriva. Se não tratada, a doença se transforma numa bola de neve: a carência do nutriente leva à perda de apetite, sem comer, o sistema imunológico enfraquece, a criança vira alvo de infecções, perde rendimento escolar e pode ter complicações em seu desenvolvimento neuropsicomotor.

1. O que é a anemia?

Anemia é a condição na qual ocorre queda da hemoglobina no sangue. A hemoglobina é a responsável pela coloração avermelhada da pele e pelo carregamento do oxigênio aos tecidos, o que gera a energia para as atividades diárias. Muitas são as causas de anemia, ela pode ser congênita ou adquirida, mas a que nos interessa aqui é a anemia carencial, consequente da falta de ferro.

2. Cerca de 45% das crianças até 5 anos no Brasil têm anemia. Por que isso acontece? Por que esta faixa etária é a mais afetada?

Realmente a prevalência é grande. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que em países em desenvolvimento mais de 50% das crianças menores de 4 anos apresentam deficiência de ferro. Até em países desenvolvidos a anemia apresenta níveis crescentes de prevalência, tornando-se um grave problema de saúde pública. No Brasil, estudos regionais com crianças de diferentes faixas etárias apontam variação de 28 a 68%.

Essa faixa etária é a mais acometida porque durante a infância, principalmente até 18 meses de vida, ocorre o rápido crescimento e desenvolvimento do organismo, que requer uma demanda aumentada de ferro. Porém, muitas vezes a ingestão é inadequada e/ou ocorrem perdas gastrointestinais devido à alergia a proteína do leite de vaca, parasitoses intestinais, perdas diarreicas, refluxo gastro-esofágico…

3. A falta de ferro na alimentação explica a alta incidência da anemia em crianças?

Sem dúvida, a dieta pobre em ferro é o principal fator causal das anemias na infância.

4. Como é possível identificar anemia em crianças? É uma doença silenciosa?

Não, a anemia em crianças não é uma doença silenciosa. Os primeiros estágios da deficiência de ferro geralmente não apresentam sintomas, mas a anemia instalada vai sempre cursar com alterações clínicas como palidez, fadiga, fraqueza, sono excessivo e inapetência, que são os principais sintomas.

5. É verdade que a anemia começa precocemente nos bebês, principalmente naquela fase em que a amamentação é trocada pela alimentação?

Sim. A maior incidência de anemia ferropriva ocorre entre 9 e 12 meses de vida, época em que geralmente se faz a introdução da dieta da família e da mamadeira (na maioria das vezes leite de vaca integral). Muitas vezes essa fase de transição não é “bem aceita” pela criança, simplesmente porque é uma questão de aprendizado, e os pais, por inexperiência ou falta de orientação adequada, interpretam como a criança não gostando dos novos alimentos e deixam de insistir na oferta de alimentos saudáveis justamente numa fase da vida em que eles são tão importantes.

6. Existe uma resistência dos pais em dar carne para as crianças?

Não diria resistência em dar carne, na verdade poucas são as famílias vegetarianas. O que acontece muito é que as crianças não engolem a carne, chupam e depois cospem. Oriento que o ferro está literalmente na carne e que não adianta só o caldinho.

7. É verdade que o ferro dos vegetais não é tão facilmente absorvido quanto o das carnes, por isso é importante que as crianças comam carne?

Sim. O ferro de origem vegetal, ao contrário do de origem animal, para ser absorvido, sofre influência de fatores inibidores (fitatos, fibras, cafeína, sais de cálcio…) e facilitadores (vitamina C, frutose, citratos…).

8. Quais os alimentos mais ricos em ferro?

As carnes, principalmente as vermelhas; as vísceras (fígado de boi e de galinha); feijão (todos os tipos); gema de ovo; verduras e hortaliças (as verdes escuras são as que mais têm ferro: couve, brócolis, agrião, espinafre, rúcula, escarola…).

Aqui vão 2 dicas importantes: sempre deixar o feijão de molho por pelo menos 1 hora antes do cozimento, o que ajuda a liberar os fitatos com consequente melhora da absorção do ferro e também das cólicas intestinais. A outra dica é que a beterraba só tem açúcar, o ferro está no talo. Podemos cozinhá-lo na sopa, no feijão, fazer refogado…

9. Falta de ferro faz as crianças terem comportamentos diferentes, como comer terra?

Sim. A deficiência de ferro pode cursar com perversão do apetite, também conhecida como “pica”. Pode ocorrer ingestão de terra, espuma, sabão, gelo…

10. Como é feito o tratamento? A complementação com ferro é indispensável?

A dieta rica em ferro é muito importante, mas na anemia já instalada, faz-se necessário suplementação com ferro oral na dose de 3-5mg/kg/dia, geralmente por um período de 3 meses.

11. Se a anemia não for tratada, o que pode acontecer com a criança?

Quando a anemia em crianças não é tratada ou é inadequadamente tratada, vai se formando uma “bola de neve”: a anemia cursa com falta de apetite, sem apetite a criança não se alimenta bem e a anemia piora, ficando a criança cada vez mais fraca, sem querer brincar, com baixo rendimento escolar, com maior susceptibilidade a quadros infecciosos, com mais sono e mais pálida-amarela.

12. Muitos pais se assustam com a palavra anemia porque associam a doença à leucemia? Qual a relação da anemia e da leucemia?

Essa é uma pergunta importante e que sempre esclareço aos pais antes mesmo que eles me perguntem. Anemia não vira Leucemia. Leucemia é um câncer que acomete a fábrica do sangue, gerando alteração em todas as células do sangue, inclusive as vermelhas, levando à anemia, que neste caso não é carencial.

Dra. Alessandra Souza Ramos – Hematologista Pediátrica do Sabará Hospital Infantil

Tags: alimentação, nutrição, anemia, anêmico, ferro

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