Mães e profissionais da saúde na linha de frente do combate à pandemia: elas contam suas histórias de superação e esperança - Hospital Sabará
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Mães e profissionais da saúde na linha de frente do combate à pandemia: elas contam suas histórias de superação e esperança
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Mães e profissionais da saúde na linha de frente do combate à pandemia: elas contam suas histórias de superação e esperança

Confira o relato de quatro profissionais de Saúde do Instituto PENSI e do Sabará Hospital Infantil que não desistiram do combate ao vírus mesmo com seus próprios medos e frustrações  

A data é a segunda mais importante do ano para o comércio: perde apenas o Natal. Mas a realidade é que o Dia das Mães, comemorado aqui no Brasil neste domingo (9), é o momento de celebração de afetos e de agradecimento àquelas que nos criaram para lidar com os desafios do mundo.

Com cerca de 420 mil mortos decorrentes da Covid-19 e um percentual ainda muito baixo de população vacinada, o país terá de passar por um segundo Dia das Mães imerso nas restrições e incertezas impostas pela pandemia, enquanto os Estados Unidos e algumas nações europeias começam a afrouxar as restrições em meio ao avanço da imunização.

Mas, se essa é uma luta da qual não se cogita desistir, que dizer dos profissionais de saúde que estão na linha de frente e travam uma briga diária pela vida? Que dizer então das mães médicas, enfermeiras, auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, psicólogas e tantas outras que atuam nesse front como trabalhadoras da saúde no combate à pandemia?

Ouvimos quatro dessas profissionais do Sabará Hospital Infantil e do Instituto PENSI sobre o desafio que foi, e ainda é, ser mãe em um momento histórico e árduo como o do combate à pandemia.

Giuliana Fongaro: angústia era maior sobre contaminar a família que a si própria

Para a pediatra hospitalista da Unidade de Internação do Sabará Hospital Infantil Giuliana de Freitas Fongaro, ser mãe na linha de frente do combate à Covid é “tão difícil quanto ser filha, amiga, colega”, já que o coronavírus, de comportamento bastante imprevisível, podia colocar tanto os trabalhadores da saúde quanto os familiares e pessoas próximas deles em risco.

Médica há 22 anos, Dra Giuliana é mãe de Ana Beatriz, 11, e Carolina, 6, e atende os filhos de muitas outras mães diagnosticados com Covid.

“No início, quando ainda não sabíamos nada sobre esse vírus, a angústia maior sempre foi transmitir a doença para nossos entes queridos, mais, até, do que adoecer”, conta. Como milhões de outros brasileiros, a médica também foi impactada pelas restrições de afeto e carinho em relação à própria família – mas com uma tarefa adicional de não esmorecer a solidariedade com as famílias de seus pacientes.

“Ser mãe nessa pandemia foi ser ainda mais solidária com as famílias, que além de trazerem seus filhos doentes, traziam também histórias de outros entes queridos doentes, ou a dor da perda de outros familiares. E foi ter certeza de que, por mais que o dia tivesse sido duro, eu voltaria para as minhas duas meninas, que estariam me esperando cheias de orgulho porque a mãe delas estava cuidando das crianças doentes”, define.

Cassia Salgado: guerreira de um exército pronto para enfrentar qualquer dificuldade

Mãe de Isadora, 8, e Luiz Felipe, de 2 anos e 11 meses, a fisioterapeuta Cassia Salgado, do Sabará Hospital Infantil, descreve a atuação no combate à Covid como se fosse parte de um exército pronto para enfrentar qualquer dificuldade.

E que dificuldade.

Além da aspereza da rotina de trabalho, Cassia, há 23 anos na profissão – seis anos só no Sabará –, ainda teve que superar outros desafios pouco suaves também na vida pessoal.

“Infelizmente meu casamento já estava desgastado, e, quando chegou esse período, meu marido disse que eu estava colocando a família em risco, e decidimos nos separar”, desabafa a fisioterapeuta.

Junto a isso, ainda teve de passar pela dor de ver a própria mãe, infectada com o coronavírus, ser internada. Foi um susto e tanto.

“Minha mãe teve Covid e precisou ser internada, mesmo eu não dando um abraço nela havia um ano. Ver a sua própria mãe indo para o hospital sem saber se ela voltaria é muito dolorido”.

Mesmo assim, a fisioterapeuta não desistiu: fez do amor como filha e pelas próprias filhas, como mãe, seu combustível vital daquele exército pronto a não esmorecer –e do qual outras profissionais de saúde, e várias, também mães, não estavam dispostas a abrir mão na guerra contra o vírus.

“É uma mistura de sensações: adoro cuidar e ver a alegria de viver retornando ao paciente e à família dele, me coloco mesmo no lugar deles. E muitas mães no Sabará estão com um dos filhos internado e não podem ver seus outros filhos”, relata.

Se ela tem medo? “Claro que sim, e medo de contaminar meus filhos, de me contaminar, de ser derrotada pela Covid. Mas sinto como se fosse uma missão e fizesse parte de um exército: aquele exército que vai devolver muitos filhos a suas mães. A sensação de ajudar e participar da cura da dor e do retorno para casa é muito gratificante”.

Maria Carolina Modolo: cicatrizes e agradecimento pela vida

“Foi um ano bem conturbado e bem complicado para toda a população mundial, né?”

A pergunta da intensivista pediátrica e diarista da UTI do Sabará Hospital Infantil Maria Carolina Caparica Modolo, mãe de Julia, 7, e Rafael, 5, dá o tom do que têm sido os últimos meses para os profissionais da linha de frente da pandemia.

Até outubro do ano passado, a pediatra atuou também na UTI mista de adultos e crianças do Hospital das Clínicas – onde a equipe acabou tendo de lidar muito mais com adultos do que com crianças. Em março daquele ano, por sinal, a ordem na unidade era atender mesmo só pacientes de Covid. Veio o frio na barriga, veio o medo. Amigos e colegas se isolaram em hotéis e mandaram os filhos para a casa dos avós para seguir a jornada de trabalho.

“Foi aí que conversei com meu marido e tivemos de tomar uma decisão: nós quatro nos isolamos, e fui eu trabalhar – evitamos contato com nossos pais e sogros; meu marido cuidava dos nossos filhos de manhã e eu à tarde, e à noite eu dava plantão”, lembra.

“Era horrível ir trabalhar quando o HC se efetivou apenas como local de tratamento de Covid, pois estávamos todos, naquele momento, cheios de dúvidas se levaríamos o vírus para casa. Aos poucos a gente foi vendo muito sofrimento, muito poucas crianças, e logo entendemos nós, pediatras, que íamos trabalhar com adultos”, conta.

Ao todo, foram quatro meses atuando na UTI Covid do HC, além do Sabará. Pouquíssimos casos eram de crianças, e quando havia, eram com comorbidades.

Todos os dias, a médica passava por um verdadeiro ritual antes de retornar para casa: tomava banho no hospital, trocava toda a roupa e o sapato e não levava nada que estivesse com ela no ambiente de trabalho.

Em casa, a mãe teve de lidar com os filhos sem contato físico com os avós e com os coleguinhas de escola. Uma cena, no entanto, a marcou muito mais: “O meu filho em casa, à noite, todo dia, rezando para o coronavírus ir embora para ele poder ver o restante da família e os amigos. Foi um ano pesado para todo mundo.”

Dra Maria Carolina teve Covid com dois meses de trabalho, mas teve apenas sintomas leves. O marido e os filhos também. Quando isso aconteceu, foi um mês inteiro de isolamento, dentro do apartamento.

“Essa reclusão é muito pesada, mas conseguimos manter a saúde mental, apesar de tudo. Isso tudo vai deixar uma cicatriz na nossa vida e na de todo mundo, mas quem passou por isso e está bem só tem que agradecer – e seguir em frente, com saúde”.

Fátima Fernandes: “Temos que ter fé e perseverança nas boas ações”

Mãe de Sofia, 22, e Marina, 20, a pediatra e imunologista Fátima Fernandes não faz rodeios: ser mãe e profissional de saúde na época de pandemia é ter que superar muitos mais desafios do que o habitual.

Diretora do Instituto PENSI(http://institutopensi.org.br/) e do Departamento de Imunologia e Alergia do Hospital do Servidor Público Estadual, de São Paulo, e conselheira da Associação Fundo Areguá (https://fundoaregua.org.br/), Dra. Fátima relata que, para transpor as barreiras tão excepcionais do momento histórico, precisou revisitar seus próprios conceitos sobre o verdadeiro significado da vida, bem como sobre qual é o seu papel em vários cenários.

Um dos desafios se refere às duas filhas jovens, privadas do convívio social com familiares e amigos — uma das quais, estudante de Medicina, mesmo inexperiente, já atuando na linha de frente e já exposta ao risco de contaminação.

Outro momento crítico diz respeito à atuação da médica como supervisora de residentes em formação. Ainda que com toda a preparação técnica, ela garante: demonstrar uma instabilidade emocional quase paralisante, no cenário como o pandêmico, foi uma cena mais comum do que se pensa.

Profissional de saúde da linha de frente, diretora, mãe… e filha: com pais idosos, quase centenários, a cena que a marca é de ter que acenar a eles desde o portão da casa, “sem poder abraçá-los e desfrutar do pouco tempo que lhes resta”.

Sem contar que é preciso lidar com a angústia de pacientes assustados ante à incerteza do próprio prognóstico ou o de entes queridos, e, como pesquisadora, compreender a própria expectativa por uma solução salvadora e acessível a todos.

Mas é como cidadã que restou um desafio permanente: “O de lutar para que a vida humana tenha mais significado e importância do que disputas políticas e de capital”., explica.

“Após tantos meses de sofrimento, minha mensagem é esta: a de que temos de acreditar em algo mais além do material – e ter fé e perseverança nas boas ações. Ainda que nosso poder de alcance de soluções concretas seja limitado, precisamos confortar a todos com quem interagimos e nos unir na esperança de dias melhores para a humanidade”, afirma.

*

Saúde, amor e esperança para mães, filhos, famílias!

Feliz Dia das Mães! Muito orgulho pelas mães profissionais da saúde!

 

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