A importância da amamentação em casos complexos
Prematura extrema, Liz chegou no Sabará desnutrida e hoje faz aleitamento via sonda de gastrostomia e come papinhas
Quando chegou ao Sabará, a pequena Liz tinha 4 meses e apenas 1,5 kg. Prematura extrema, ela nasceu no Rio de Janeiro e teve uma longa internação com várias intercorrências, com problemas no desenvolvimento dos pulmões e intestino. Já com uma colostomia, Liz enfrentou um problema comum de prematuros: a dificuldade de nutrição adequada.
Quando soube da equipe de reabilitação intestinal do Sabará, Laís dos Santos, mãe da Liz, entrou em contato com o hospital e decidiu pela transferência. Assim que chegou em São Paulo, Liz passou por uma avaliação multidisciplinar com a equipe do Programa Avançado de Tratamento da Insuficiência Intestinal (PATII), e foi criado um plano de cuidados para reverter o quadro.
“Ela chegou no Sabará já com desnutrição extrema, tendo passado por muitos procedimentos, infecções e 19 transfusões de sangue. Ela estava entubada desde que nasceu, e logo em seguida passou por uma traqueostomia. Ela nunca havia mamado e sempre esteve com nutrição parenteral, e fiquei emocionada com o plano de cuidado e a humanidade de toda a equipe do Sabará em entender todas as complexidades do caso”, conta Laís.
Benefícios da amamentação fazem diferença no cuidado de crianças complexa
Um dos sonhos de Laís era conseguir amamentar a filha. Como a pequena foi entubada logo após o nascimento e permaneceu desacordada por meses até conseguir evoluir para uma traqueostomia, Laís nunca tinha interagido com a filha nem tido a oportunidade de vê-la se alimentando sem ser pela via da nutrição parenteral.
“Eu costumo falar que a amamentação é um ato de resistência. Eu não tive o privilégio de ter a minha filha mamando no peito, ela não conseguia sugar, não tinha coordenação nem respiração para isso. Mas, com a intervenção da equipe de nutrição e de fonoaudiologia do Sabará, ela finalmente conseguiu tolerar o leite, nem que fosse gotinha por gotinha. Inicialmente, só de colocar uma gota na boca ela tinha náuseas. Depois da dessensibilização com a equipe, ela não só aceita como já come papinha”, se emociona Laís.
Como a amamentação sempre foi uma prioridade para Laís, a equipe do PATII, da nutrição e da fonoaudiologia criaram um plano de alternar entre fórmula e leite materno. “Pacientes com falência intestinal são muito sensíveis a qualquer tipo de volume, então temos um cuidado maior na oferta da fórmula e do leite materno. Como a Laís queria muito amamentar, optamos por deixar liberado um volume mínimo para ordenha, que seria ofertado para a Liz , alternando com a fórmula hipercalórica pela sonda”, explica Ingridy de Melo, nutricionista do PATII.
A via não tradicional não impacta na qualidade nutricional do leite materno, e manter a amamentação quando possível é uma recomendação de saúde importante. “Mesmo via sonda, é importante manter esse vínculo entre mãe e bebê. De forma geral, quando a mãe tem leite, tentamos de forma cuidadosa manter esse vínculo e aproveitar os benefícios imunológicos da amamentação. Foi muito emocionante ver a Liz passar de uma criança muito delicada para uma bebê que não é mais desnutrida”, completa a profissional.
Evolução de Liz mostra a importância da equipe multidisciplinar e do plano personalizado
Por muito tempo, Liz tolerava apenas 1 ml de leite. Mesmo assim, Laís não desistiu e continuou a fazer a ordenha a partir da orientação da equipe multidisciplinar.
“Estive presente de manhã até a noite, sempre fazendo questão de tentar fazê-la tomar esse 1 ml. Foi ali também que eu fiquei emocionada com a estrutura do Sabará, porque nem todos os lugares dispõe de um lactário. Fiquei muito encantada, porque eu tinha junto comigo uma equipe de nutrição, uma bomba para tirar o leite, tudo que eu precisava”, conta a mãe.
Hoje, Liz consegue tomar 100ml de leite de 3 em 3 horas, e segue em tratamento em esquema home care. “As médicas, a nutricionista e a fonoaudióloga foram muito sensíveis, porque era difícil pra mim saber que ela teria que tomar fórmula. Elas entenderam a importância do leite materno pra mim, e em todo momento me apoiaram nessa jornada. Tenho muito a agradecer à Dra. Maria Paula Coelho, coordenadora do PATII, ao time de nutrição e à Talita Nishi, fonoaudióloga. Sigo maravilhada pelo carinho de todas”, completa Laís.