Um retrato da dor abdominal na pré-adolescência - Hospital Sabará

Um retrato da dor abdominal na pré-adolescência

Com o objetivo de investigar como a experiência da dor crônica funcional incide sobre a subjetividade de pré-adolescentes, a equipe de psicologia do Sabará Hospital Infantil, juntamente com a Gerente da Unidade de Internação Sabrina Bertolin Nery e outros parceiros, realiza pesquisa com pacientes de 9 a 12 anos internados.

Esses pacientes são divididos em dois grupos: aqueles que têm doenças infecciosas/dores agudas (Grupo Controle) e aqueles que têm Dor Abdominal Crônica Recorrente (DACR).

 

Dor abdominal crônica

A dor abdominal crônica funcional, objeto de estudo dessa pesquisa, é aquela em que não se encontram as causas estruturais, infecciosas, inflamatórias ou bioquímicas da dor, mesmo após a realização de exames. Essa dor é real e pode ter um gatilho psíquico. Cerca de 10 a 15% das crianças entre 5 e 14 anos têm dor abdominal crônica.

 

A pesquisa

A equipe de pesquisadores realiza conversa com a família do paciente e solicita que ele tire dez fotografias utilizando celular próprio ou dos pais. Depois, pede que escolha as três fotos que mais gostou. No segundo momento (após 24h), o paciente é convidado a falar sobre o que fotografou (o que registrou, motivações, processo de escolha e grau de satisfação com o resultado).

 

Projeto piloto

No projeto piloto, foram analisados quatro casos, sendo dois com DACR e dois do Grupo Controle. Após conversas com a criança e familiares e análise da produção fotográfica desses pacientes, foi verificada uma importante diferença entre os grupos.

No primeiro, havia selfies com carinhas desanimadoras, entediadas, sonolentas. Imagens do acesso venoso, imagens que revelavam algo de dentro do hospital (cadeira de banho, cama com controle remoto, comida do hospital) e outras imagens que remetiam a algo de fora da rotina hospitalar (livro de escola, vídeo game, parentes). Assim, as crianças do Grupo Controle retrataram que sua vida difere do tratamento. O “eu” se difere da doença.

Por outro lado, nas fotos de crianças do grupo DACR, a ausência de referências a um mundo externo ao hospital, a uma rotina ou interesses fora desse ambiente, pode indicar que a experiência da cronicidade da dor predispôs ao apagamento gradual das fronteiras entre vida e tratamento. Parece que Vida se tornou equivalente a Tratamento médico e orgânico. O próprio “eu” da criança equivale à doença.

 

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